domingo, 20 de setembro de 2009

A vida é um a puta, filha de uma puta igualmente puta.

Senti uma vontade especifica de alguma coisa que não existe. Não era chupar, nem dar, nem fazer movimentos circulares em meu clitóris.
Renascimento não apareceria hoje como um analgésico. Dizem que a paixão tem dessas coisas, ficamos horas pensando na pessoa alheia, e isso não é funcional, não é moderno. E eu sou tão moderna que nem existo. Não acreditam? Podem me procurar por aí!
Gostaria de estar em algum lugar que eu não estivesse. Estou meio merencória hoje.
Enfim, a boate tem sempre os mesmos caras, as mesmas putas, a única coisa que mudou nos últimos dias é que não se pode fumar, não é mais lícito. Como se a prostituição fosse regulamentada. Pode dar e cobrar, só não pode fumar.
Cansei de ser merencória, deixo isso para os homens com a cor do ocaso nos olhos.
Como eu sou uma pessoa espontânea e estou, entre os mortos, VIVA, resolvi contar a vocês a história verídica de minha última noite como atriz pornô. A história é mais ou menos assim: EU, a mulher mais bonita do filme, sou uma espiã que trabalha em elevadores, chupando os paus enquanto o elevador não chega ao destino dos empresários. Demos função para este não lugar, esse momento transitório e sem importância que é o elevador. Muito bem, eu deveria chupar um publicitário e descobrir sua secreta fórmula de criação, para vender a outra agência (falida) de publicidade, para um comercial de shampoo.
Depois de me dar a fórmula da criação, uma outra atriz deviria levá-lo à um beco sem saída, onde anciãs lésbicas e cachorros famintos fariam dele pó e o cheirariam.
Muito surrealista, não gostei muito. Eu que deveria ter escrito o roteiro. A história ficaria mais ou menos assim: EU chuparia o publicitário, o publicitário ME daria a fórmula, e EU faria o comercial de shampoo, depois, EU o levaria para o beco, EU o chuparia e EU mesma, afinal, o cheiraria. Se bem que não gosto muito de pó,
então posso deixar essa cena menor para outra atriz, a Lurdirina, no caso, que é cocainômana. Eu sou uma fora da lei, mas tem certas coisas que eu não tolero. O pó envelhece, o pó deixa as pessoas com olheiras permanentes, o pó é a droga da infelicidade, e o pó é uma mentira glamourosa imediata que quando passa faz rosnar.
Sem contar que eu sou dançarina-escritora, e o pó deve prejudicar o lado intelectual e sexual ao longo do tempo.
Gosto de sentir meus miolos coçando enquanto o vinho toma conta das minhas veias e a fumaça do meu cigarro envolve as fissuras do meu cérebro errante.
A Lurdirina me disse que eu não deveria escrever, porque não sou gabaritada em nada além de anal giratório. Inveja é o mal dessa puta! Se o Collor entrou para a academia alagoana de Letras, sem nunca ter escrito uma linha, nem em parede de banheiro, por que EU, que sou atual, já li diversos livros ou as orelhas dos livros, não posso fazer literatura?
O importante é trepar com a cabeça dos caras, e para isso não há faculdade. Não posso descrever em pormenores a sensação de êxtase inatingível que me arrebatou lendo Shakespeare, eu ali com o livro na mão, imaginando o pau latente de Macbeth me preenchendo. Ou os orgasmos niilistas que tive com Hamlet, enquanto ele duvidava dos meus gemidos. A Odisséia eu gostei, mas não gozei. A melhor parte era quando os heróis ficavam de joelhos. Na Grécia antiga, ficar de joelhos significava morrer sem honra. Hoje em dia o sentido é bem mais sexy...
Lolita foi o livro que mais trepei, nunca vi um amor tão concreto, apesar do estilo ser floreado, como Nabokov mesmo diz. Ali o amor era fisicalizado, era corpo, suor, saliva e lágrimas opalescentes. Não sei que inseto me picou, cá estou eu falando daquilo que menos acredito. Eu sei que não há extintor contra o incêndio do amor. As putas acham que chicotes, algemas e outros artefatos farão o cara pirar. Mas o maior delírio do sexo é o amor. Foi aí que relembrei do Renascimento e resolvi passar por cima do meu orgulho e ir atrás dele. Fui até a delegacia, um policial me atendeu e perguntou se eu queria fazer uma queixa, menti que sim. Fiz um B.O falso, disse que fui assaltada na rua augusta (o que é quase impossível) O escrivão me pediu que descrevesse o assaltante.
- Tinha mãos grandes, cabelos loiros compridos, olhos verdes ou anil.
O escrivão me pediu que narrasse o fato.
- Ele chegou por trás, me encoxou com força, o pau ele encaixou bem no meio das minhas nádegas e, assim que pegou minha bolsa, sumiu. E me deixou ali, sozinha, as minhas nádegas esfriaram de repente.
O escrivão, muito concentrado, anotou cada palavra. No fim da entrevista, perguntei:
- E o capitão Renascimento, onde posso encontrá-lo?
O escrivão me deu um endereço.
Fui até lá com o clitóris em chamas só de imaginar aquele pau roliço entre as minhas coxas.

Dessa vez, eu manipulei o acaso.
Assim que me viu, ele parou, olhou bem para a minha cintura. Eu dei uma viradinha, para que ele pudesse contemplar meu traseiro, fiquei um pouco nesta posição privilegiada. Quando girei novamente, ele havia sumido.
Mas e daí? A vida é uma puta, filha de uma puta igualmente puta. Agora mesmo, em comemoração, vou virar um uísque sem gelo, nua em pêlo. Liguei pra Lurdirina, ela estava atendendo um casal. A cidade me chamava, a augusta em chamas. Desci para a rua. Quadro uísques depois, o dono do bar me chamou para ir com ele em uma sinuca. Eu, petulante que sou, já ia negar o convite, quando percebi minha carteira vazia. Oquei, eu disse. Sinuca me remete à sexo invariavelmente. Bolas, tacos e buracos. Bolas, tacos e buracos. De repente, sou apresentada pelo dono do restaurante à um homem bruto, calado, que entrou conosco no jogo. Fui futricar um pouco a vida dele, e descobri que ele era chapeiro de uma padaria. Ele realmente tinha um num sei que. Algo que me lembrava o Renas e o seu peitoral. Eu sempre fui ébria, mas esse dia estava bebendo mais que mulher divorciada e fumando tal qual uma caipora. Quando abri os olhos, estava em um quarto de motel, absolutamente nua, com aquele homem me penetrando com seu pau de cavalo. Eu por cima dele, o funk bombando no último volume. Gostaria de contar linearmente para vocês, mas o que me lembro são restos entrecortados. Me lembro bem de sair do motel inteirinha engordurada da pele do chapeiro. O cu ardia mais que o sol do meio-dia. As ancas de donzela cansadas de tanto rebolar ao som frenético do sub-desenvolvimento. Uma ressaca nos escombros da minha alma, os tambores da África na minha cabeça.

Ainda vou escrever uma manual de como ser solteira e sobreviver. Sim, pois minha história com o Renas acabou. Nunca me imaginei sofrendo por algo tão rasteiro como um homem. Mas é assim, melhor um final horroroso do que um horror sem fim.

3 comentários:

  1. Juliana Frank, e sua escrita. No meu início em letras, quando lhe conheci, você foi a pessoa mais atterradora e a mais incrível que eu havia conhecido em quase 18 anos de vida! Hoje em dia eu só acho você incrível, aprenndei a ter medo de outras coisas...

    Seu blog ficou luminoso, e elétrico, ficou bem você. Um dia vá nos ver e te mostro Helena: vocês são parecidas; ela vive na tênue linha entre a degradação e a sensibilidade, mas não tem uma vidinha tribulenta de trabalhadora. É, talvez você não goste dela...

    E ah sim, o cu das pessoas não costuma ter acento...rs

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  2. jou! as aventuras dessa puta de plastico estao me cativando cada dia mais! continue!!!
    bjsss

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  3. Terceiro conto seguido seu que leio.
    São os desvaneios comentados da realidade que somente uma dançarina pode nos dar. Essa perspectiva que nos prende e imagina se é realmente um conto.

    Incrivel esse seu relato.
    Sinto-me triste de imaginar que uma hora
    você ira ficar rica e parar de nos contar seu passado de graça

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