sábado, 26 de setembro de 2009

Objeto não identificado

Vou narrar uma história talvez inenarrável, porque histórias reais são como viagens, a gente volta totalmente apátrido, tentando descrever as emoções mais tocantes, mas o que conseguimos com o relato fica muito aquém do fato. Também não gosto de fotografias, só as que estou pelada.
Não entendo porque as pessoas gostam tanto dessa coisa fria que é um pedaço de papel contendo um ínfimo fragmento de um momento. Pensamos em tirar uma foto nos momentos em que almejamos ser bacanas demais, mostrar aos outros o quanto somos sublimes. Uma grande lorota! Somos todos serzinhos reles e abjetos, somos todos infestados de fastio. Estamos todos condenados ao anonimato de nossas almas. Minha buceta sim é famosa, depois de tanto aparecer em filmes. Você pode conhecer a carne da Leysla, mas a interioridade da Leysla é imperscrutável.
Esses dias um leitor meu disse que eu era filosoquenga. Ri muito porque também não acredito em filosofias, só acredito no sexo. Eu só escrevo porque cansei de ficar conversando com as putas da Augusta, tenho nojo do tédio e muita insônia. Escrevo porque a literatura é perigosa. Afinal, se não fosse Machado de Assis, a capital não seria no centro do País. Mas eu prefiro ser prosaica a ser barroca, prefiro não entender nada sobre escrever. A verdade é que só entendo de filmes pornôs, danceterias e prostituição. Enfim, eu tenho uma relação religiosa com o sexo. Não existe nada mais sexy do que agachar no genuflexório e dar uma oradinha. E o que mais tem no mundo é gente assistindo aos filmes pornôs que eu participei. Vibrando com o entra e sai incessante na minha idolatrada vagina ou no meu ânus, que mesmo sendo pequeno como uma ervilha, se abre mais que o mar vermelho dependendo da força da ereção. Por que assistem? Porque são zeladores de cu.
Me perdi em meus devaneios. Estava dizendo que aconteceu um milagre na minha vida. Normalmente, quando estou no conforto do meu lar, absolutamente nada acontece, fora as estrelas que brotam do chão quando ponho meu vibrador de cores alucinógenas para girar, assistindo um filme Frank Zappa. É um ritual contra o tédio, que eu exerço desde a infância. E gozo mais forte que a Lurdirina com seus orgasmos metafísicos.
Acontece que desde que tirei dos orelhões aqueles anúncios de anal giratório, meu telefone nunca mais tocou. Às vezes vou até ele, tiro do gancho para conferir se não está desligado.
Estava vendo um filme infinitamente inspirador da minha melhor e desconhecida amiga Silvia Saint, quando o telefone milagrosamente tocou. Uma voz terrivelmente masculina, desses homens que parecem estar sempre com cigarros indefectíveis na ponta dos dedos, disse a palavra “alô”, eu inflei o peito, soltei os lábios, dei uma lambida vasta e respondi a palavra “alô”. Ele disse “quero entrar na sua buceta, meu pau está duro como uma pedra”, eu disse que fiquei ruborizada, ele disse “mentira, que nada”, ele disse “quero gozar na sua boca imunda”, eu sou a Rainha do mau gosto, mas tem certas coisas que eu não tolero, por exemplo: fazer sexo pelo telefone. Não tem nada a ver comigo. Também não gosto do tântrico. Afinal, eu tenho orgulho ocidental, é pau na buceta, buceta no pau. Ele disse “sua puta gostosa”, eu disse que sim, sou desde os tenros anos. Ele continuou dizendo uma porção de nomes bonitos e sujos. Desliguei o telefone quando a brincadeira começou a me entediar, mas não sem convidá-lo para um encontro carnal.
Escolhi uma roupa prateada, sandália da mesma cor, fiquei parecendo um objeto não identificado. Acertei em cheio na produção! Os meus cabelos são negros como a crina de um cavalo, e os meus dentes são fortes como a dentição de um bom cavalo. E eu sempre mostrei meus dentes quando fiz sexo oral nos filmes, ele iria me reconhecer!
Marcamos um encontro no planetário, que é um lugar infinitamente erótico e cheio de criancinhas, elas ficam lunáticas com as estrelas e gostam ainda mais do que o bambolê, que também é uma brincadeira muito sexy.
Assim que cheguei, me deparei com uma mulher alta, loira, cabelos alongados graças ao mega-hair italiano, a mesma voz viril que já havia reparado ao telefone. Ela, com gogó protuberante, me disse que se chamava Maíra, escolheu esse nome por pura pretensão de ser má e ira. Ela me convidou para ir à sua casa provar sua receita de cogumelos ao molho pauleira e estava com uma vontade louca de desabafar. Sim, um travesti belíssimo confessou estar louco por mim. As figuras de sexo indeterminado sempre cruzam o meu caminho. Você pode achar degradante, mas as experiências bizarras fazem parte do meu dia a dia.
Fizemos um sexo animalesco e bastante brutal. A confusão começou porque a trava queria ser a mulher da relação. E se tem uma coisa que eu sou é mulher. Que Deus me conserve mulher por todas as encarnações! E um poeta me disse: “Deus é uma grande buceta”. Se ele estiver certo, eu acredito em Deus.
Então, o sexo foi excentrissimo. Gostei, mas não gozei. Assim que acabamos de nos pegar, acendi o tardicional cigarro pós coito e fiquei observando as pernas daquele ser hibrido. Bonitas! Tinha uma mancha rosa, eu me lembrava de já ter visto aquela mancha...
Se tem uma coisa que mexe comigo é a curiosidade. Sempre ando com soníferos na bolsa, aqueles que fazem até uma vaca roncar. Esmigalhei um bem esmigalhado e coloquei no copo de uísque de Maíra. Como previsto, ela desmaiou em alguns minutos. Eu comecei a fuçar cada milímetro de sua casa. Um gato fedido que monopolizava o ambiente com seu cheiro fétido e com seu negro e depressivo existir, me seguia pela casa. Era o companheiro único daquela maluca. Fucei também o computador. Descobri que ela mantinha um diário. Desses que se faz e se sucede todos os dias, relatando os fatos minuciosamente. Não escrevia nada bem, era uma loucura mal formulada. O importante é que eu descobri que Maíra era meu primo, Gélico. Sempre foi apaixonado por mim, eu sou o seu sonho de infância. Lendo seu diário, descobri que o pobre mundo deste ser girava em torno de meu umbigo como um carrossel. Adorar era a palavra! Eu entendo, absolutamente. Porque sou um mito ainda não decifrado. Gélido havia se transvestido de mulher para ser como eu, e resolveu deixar o pau intacto para que, mesmo sendo eu, ainda pudesse me comer.
Eu sei que sou uma semi-celebridade, eu sei que meus cabelos são importantes, eu sei que a minha vagina latejante é o signo da devassidão. Eu sei que a Silvia Sant, se me conhecesse, se sentiria no raider. Eu sei que comigo o bicho pega seriamente! Mas isso de ter alguém me amando de forma religiosa e querendo ser como eu, me aborreceu profundamente. Porque eu fui construída no molde da perfeição, porque se Deus existe, isso é, se ele for mesmo uma grande buceta, eu saí de dentro dessa buceta! E por mais que tentem se assemelhar a mim, sempre acabam fracassando. Me deu vontade de desprezar esse mundo, tão distante de alcançar qualquer singularidade. Parece que só o Lula e eu somos capazes de ver as coisas pelo avesso neste País. Vai ver é porque nossas histórias de vida são muito parecidas. Se todas as putas fossem como eu, se todos os políticos fossem como o Lula, não estaríamos nadando contra a maré neste imenso mar de porra.

Agora tenho que ir pra boate. Prospectar de biquini sem parar. Exalar meu charme, esse que o diabo conhece bem.

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