quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quenga Trôpega

Dia desses, a esmo na Rua augusta, lá pelas tantas, bebi sei lá também quantas e deixei cair, displicentemente, uma foto em que eu estava de costas, nua. Como não aparece meu rosto, só quem me comeu sabe que sou eu. Agora há cópias e xerox e reproduções malucas dessa foto pela cidade. Está rodando. Atingindo proporções avassaladoras. Penso que o fato me faz importante, não sei explicar detalhadamente a emoção de ser uma semi-celebridade quase- no- ápice da esperança de conseguir qualquer uma fama. Quando penso na posteridade, chego à conclusão de que, talvez, a nudez será o meu legado. Ontem, ainda cedo, conheci um cara que se apresentou como capitão Renascimento. Meteu o olhar dentro de mim. Me apertou contra o seu peitoral. Olhar de tropa, peitoral de elite. Chamei a Lurdirina para me ajudar na escolha da pouca roupa que eu usarei para encontrá-lo hoje. Ela conhece tendência francesa e londrina. Tem os furos da moda! Tudo por causa de um filme, onde ela não teve um papel vá lá muito bom, porque é baixa, e como precisavam de uma anã chupadora, ela topou. Por lá ficou com seu metro e 40 de altura nessa de chupar paus para filmes. Depois fazer boquete em rodies, nos shows espetaculares, na fruição do pau visto pela luz estroboscópica. Acho que Lurdirina é foderástica. Por que ela goza sozinha, pensando, é um exercício de concentração que exige muito treinamento e esperança. Lurdirina me diz que tem por certo que o gozo vai arrebatá-la. Esse treinamento a faz estar sempre gemendo por aí, da fila da padaria ao ambulatório. Não tenho inveja de nada. Ela foi pra Europa sem um vintém, mas de chofer. Quando a Lurdirina resolve me visitar, é um pandemônio! Mesmo ao entrar aqui no hotel, é muito brusca e mal educada. Bate a porta com tanto escândalo, que até rugem as paredes. Penso que seja pelo gozo que ela pratica enquanto se movimenta, me parece que a nenhum estímulo externo ela se retém. Eu a perdôo por, às vezes, acreditar em seu orgasmo metafísico e aceito sua petulância endiabrada, sem nada perguntar. Chega, tira as luvas rendadas e as acaricia, está normalmente embriagada. Hoje bebeu até a sombra da garrafa. Mas não deixou de me trazer os biquinis. Fiquei cansada de provar, mas não posso parar de trocar de biquini sem parar. Temos que, no meio de tantos, encontrar o que envolva melhor meu corpo, e valorize em cima, porque parecem pássaros, os meus seios. Renas os quer! Trouxe também um “cavolen”, ninguém conhece porque foi ela quem criou a peça, é uma espécie de xale, quase um. Só que é usado ao contrário do tradicional. Pela frente, botõezinhos atrás. Ideal para sair com o Renas, para não entregar os pássaros de cara! O Mistério Dos Pássaros! Amanhã continuo da praia, se não aparecer, pode denunciar coronhada.

Na rodoviária.

Renascimento marcou às 11hrs da manhã. Cheguei. Fiquei dando voltas ovalares na rodoviária, pensando, pensando, pensando nele e a espera dele, que não chegava de jeito nenhum. Eu delirava, ele me abraçando por trás, com aquele pau que eu adoro chupar, e ele me dizendo aquelas coisas lindas que diz quando estamos fodendo, e cuspindo na minha boca. E ele não dava sinal de fumaça . Entardeceu, escureceu, até choveu e o biquini dentro da bolsa. Lá se foi um dia de sol, pensei, acendendo o cigarro na ponta do cigarro de um cara que conheci por lá. Chamava Rony Claus. Do interior do nordeste. Contei sobre minha profissão, ele ofereceu dinheiro por umazinha. Mas sou dançarina, não quenga, relutei. Ele me acariciou, aceitei. Fomos no banheiro da rodoviária. Gosto de fazer sexo no precário. Bem lixão o local. A gente se esfregou, ele me comeu com força, eu me retorcia de tesão. Ele me xingou de puta, não gostei! Achei que tivesse rolando um lance de pele, mas só rolou lance de pélvis.Quando saí do banheiro, de cara com o Renas e seu peitoral! Ele me pegou pelo braço com violência, me denegriu com palavras sujas na frente dos retirantes. O Rony tentou sair de fino, não rolou. Renas pegou o cara e, literalmentemassacrou. Eu não tentei impedir, o cara tinha me chamado de puta mesmo...imaginem vocês, adorei! Nenhum homem nunca havia morrido por minha causa. Eu chorei de emoção. O renas não entendeu, achou que fosse por pena. Mas eu não choraria por outro na sua frente. Ainda assim, não conseguia sair de frente do cadáver.Finalmente, entrei no ônibus com o Renascimento. Ele tava louco da cara! Queria me bater ali mesmo. Eu gosto disso nele, é por causa do signo. Leão na casa 10. A viagem foi deliciosa. Tirando uns tufos de cabelo que ele me arrancou enquanto falava coisas imundas. A gente dormiu coladinho. Quando acordei, o Renas estava chorando porque tinha me deixado toda roxa. Gosto de lembrar dessa cena. A mais romântica do mundo. O motorista falou pra galera descer, tínhamos 15 minutos. Dei um beijo no renas e fui fazer xixi, que por causa da confusão pós coito na rodoviária de são paulo, há tempos não fazia.Minha sainha tava rasgada inteira, por causa dele. A blusa também furada, mas quanto a isso okai, que ela era de renda. Eu ali, mofina, parecendo uma quenga de beira de estrada. Os cachorros da rodoviária deste lugar obscuro resolveram mexer. Eu disse: meu marido é tropa de elite, e se faz isso comigo, imagine com você. Mostrei os hematomas. Pronto, tudo se acalmou e mijei em paz. Resolvi uma empada pra mim e outra pra ele, eu estava exultante, a gente tinha feito o maior sexo ali no banco do busão. Eu feliz, com as empadas na mão. Quando entrei no ônibus, o Renas tinha sumido. Eu procurei pelas poltronas, quando percebi que ele de fato havia fugido, paralisei. O motorista deu sinal de partida. Eu ali parada, tremendo de ponta a ponta. Desci do busão porque não sou louca de ir pro Rio de Janeiro sem grana. Nem conheço boates lá. Fiquei a noite inteira sentada do lado da máquina de bala e café. O ermo, tudo escuro. Frio, nuvem atrás de nuvem. A maior escuridão. E se eu for estuprada nesse covil, o Renas me paga, viu! Minha cabeça desvairada. Comecei a dançar pros cachorros da rodoviária em troca de qualquer coisa. Eles me pagaram 100 contos e nem tentaram forçar o coito. Dei sorte! :) Comprei um cartão e liguei pra Lurdirina, a vaca preocupada com o biquíni dela! Inveja é o mal dessa puta! Ela mandou em me virar. Peguei carona com um manézão do Rio. Vou atrás do Renas, nem que seja para vingar.

3 comentários:

  1. E os que viam as cópias xerox daquela bundinha, espalhadas pela ex-rua das putas, sequer podiam pensar – por pura falta de quilometragem poética –, o que haviam feito aqueles pés para ficaram tão sujos.

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  2. acho que nem sei seu nome, mas nem preciso chamar. Ótimo 'relato'.

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