quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Estoy Quedando Atoladinha

Sim, a beleza salvará o mundo! O belo e o sublime, o belo e o sublime, como nos diz um certo escritor russo.
É preciso dançar essa minha beleza demais!

O que faz de mim uma mulher moderna, além de eu não existir, é essa ausência de sentimentos pueris, bucólicos e babacas que ainda – mas não por muito tempo – existem por aí.
Estava exultante, tinha dinheiro, álcool e lagostins na geladeira. Saí a esmo pelas boates, tudo o que eu queria era dançar a noite inteira e esquecer que vivi.
Mas acontece, queridos, que eu estou sempre na prateleira, isso é, é só chegar um homem suficientemente corajoso para me tirar da gôndola e me pôr de quatro. E não me venham com olhares inquisidores, toda mulher gosta de ser escolhida e ficar de quatro.

Foi então quando aconteceu algo semelhante a um milagre. Ele me viu ou eu o vi? Ou ele viu que eu vi que ele viu as minhas pernas?
Fui dançando lentamente em sua direção, observando aquele homem como se observa uma bela paisagem, oferecendo a ele um show exclusivo, arquitetando meticulosamente como seria, quem primeiro chuparia, enquanto ele inocentemente se equilibrava em um copo de uísque para não cair.
Eu encostei em sua braguilha e senti algo me incomodando. Segurei firme seu membro, ali, na pista de dança, esperando secretamente que todos, mesmo no escuro, pudessem nos descobrir.
Ele acompanhava com os seus grandes olhos fixos cada um dos meus movimentos. E toda a vez que eu parava de dançar para tomar fôlego e recomeçar, ele me dizia: - não para, meu bem, continua...
Em momento nenhum ele conseguia esconder a insegurança de estar ao lado de uma mulher como EU.
Nós nos abraçamos e ele afogou as suas mãos em meus cabelos enquanto eu acariciava lentamente a profundidade de suas coxas. E nos beijávamos como se estivéssemos com a boca cheia de estrelas, e ele enroscava seus ombros em mim, para que eu sentisse o seu perfume. E embora a boate estivesse barulhenta, compartilhávamos juntos de um enorme silêncio, ele segurou meus seios e apertou delicadamente os meus mamilos, eu gemia em seu ouvido como se estivesse lhe contando um segredo sujo. Então eu o cheirava de perto, cada vez mais de perto, até que conseguisse confundir minha respiração com aquele perfume antigo. E suas mãos desceram pelas minhas pernas, e quando alcançou o meu clitóris, ele pode sentir algo semelhante a eletricidade do cio dos gatos. Ele fez movimentos circulares com aquelas mãos fortes, cada vez mais intensos, até que, por fim, eu gozei profundamente, mordendo seus lábios inferiores com os dentes ferinos. Compartilhamos esse orgasmo como se compartilha uma música.
Ele se aproximou do meu ouvido e me disse: - vamos embora daqui! Eu fiz um gesto com as mãos para que ele me seguisse.

Assim que chegamos na rua, ficamos alguns segundos em silêncio, respirando profundamente. Ele me segurou com força pela cintura. Nós começamos a conversar. Sim, porque só converso depois de muito sexo.
O nome dele era Martin, Martin Francisco, filho de uma cantora decadente.
Ele me perguntou o que eu fazia. Eu respondi imediatamente, porque não sou mulher de rodeios: – Sou atriz pornô, dançarina, garota de programa e desempregada nas horas vagas. Faço sexo anal, vaginal, oral e intelectual por preço módico, porque tenho consciência da crise econômica e não pretendo falir os meus clientes.
Ele fez menção de fugir. Neste momento, eu encostei minha cabeça na lataria do carro e fingi uma tristeza natural em mulheres que são abandonadas. Ele caiu!
Entramos no seu carro e ele prometeu me salvar dessa história sórdida, deste caminho de auto-destruição que eu tinha desesperadamente me entregado.
Eu disse a ele que um homem suficientemente consciente consegue perceber que qualquer profissão rentável e honrosa na época em que vivemos é lamentável.
Expliquei que quando faço programas ou filmes pornôs, independente da força da penetração, consigo ainda refletir. Eu sou uma mulher honesta. E pessoas honestas gostam de refletir o tempo todo, inclusive quando estão trepando. Ter um trabalho burocrático me impediria de passar os dias pensando, como eu faria então para alcançar o êxtase filosófico?
Ele me disse que eu poderia ser caixa em um supermercado. Mas ele está errado, os cálculos me confundiriam, e eu prefiro segurar um membro enrijecido do que um detergente.

Expliquei a ele que minha história de pobreza e privações sempre me fizeram passar por uma certa necessidade de preenchimento. E que não estava disposta a comer doces, fazer uso abusivo de drogas ou usar absorventes internos para superar isso. Por isso escolhi o pau! O pau se tornou uma entidade para mim. Mas esse cara não entende nada de religião.

Chegamos em uma praia deserta. Eu disse a ele que estava de folga e que daria de graça a viagem inteira. Ele se animou. Me comeu na areia. Eu olhava o mar e contemplava, e gemia e conseqüentemente, gozava.
Na água, sentia o ir e vir de peixes surpreendidos no mar noturno. Ele encaixava o seu pau em mim e as ondas faziam o resto.
Também trepamos em um pasto onde vacas de olhos derramados sugavam capim e ruminavam. “Aqui tem muitos pés de gado”, eu disse, esperando que ele me corrigisse. Mas ele nem ouviu, e me comeu no meio do estrume das vacas, ocasião essa em que fiquei toda cagada.

Eu sei que o que mais chama atenção em mim são os meus quadris e a minha fuça de néscia. Mas eu sei bem quando uma relação aponta para o romantismo. Eu tive essa revelação trágica! Então, entrei no mar com o Romeu pós-moderno e sugeri que nadássemos até a morte, que seria belo, romântico, poético. Ele me olhou com os olhos marejados, estava realmente emocionado.
Mas eu sabia que seria cansativo, sufocante, vão e perigoso ultrapassar essa fronteira humanamente impossível.
Como uma criança cruel, eu pedi que ele fosse primeiro, que assim que ele estivesse afogando, eu iria morrer junto dele. Ele se foi. Sumiu naquele mar preto. Me diverti bastante ao imaginar o seu corpo viril jazendo em meio aos peixes bioluminescentes.

Fui até a estrada principal daquele pequeno paraíso e arrumei uma carona de volta para São Paulo. O motorista do caminhão ouvia Djavan no último volume. No céu, um estouro de azul, as nuvens, essas esculturas cambiantes, se movimentavam tão velozmente que pareciam um mar visto de baixo. Eu olhei para o motorista, dei um longo suspiro e desabafei: ai, que dia cheio!

Um comentário:

  1. Parabéns, excelente texto.Se você trepar como escreve, eu quero fornicar em letras na tua cama, e gozar em acentos nos teus cadernos.

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